O fascínio do público por corridas de automóveis e pelas lendas por trás do volante nunca esteve tão em alta nas telas de cinema. Enquanto o recente sucesso de bilheteria “F1” redefine o gênero com tecnologia de ponta, um novo filme, “Ferrari”, dirigido por Michael Mann, chega aos cinemas para explorar as raízes dramáticas do esporte, focando em um dos nomes mais icônicos da indústria automobilística.
A Visão de um Produtor: O Sucesso de “F1” e a Inovação Tecnológica
O veterano produtor Jerry Bruckheimer, uma força por trás de grandes sucessos, recentemente comentou sobre a fórmula que levou “F1” a arrecadar impressionantes 624 milhões de dólares mundialmente. Segundo ele, o apelo do filme, especialmente no mercado americano onde a Fórmula 1 é menos popular, foi justamente a imersão em um universo desconhecido. “Você entra em um mundo sobre o qual não sabe nada e, ao sair, entende muito mais o que esses pilotos enfrentam. Eles são alguns dos maiores atletas do mundo”, afirmou Bruckheimer.
O produtor destacou o trabalho intenso dos atores Brad Pitt e Damson Idris, que “treinaram por quatro meses apenas para conseguir pilotar esses carros”, atingindo velocidades de quase 300 km/h. O crédito pela experiência visual imersiva, segundo ele, vai para o diretor Joseph Kosinski e para a Apple, que investiram em inovações de câmera. “Joe [Kosinski] tem formação em engenharia e arquitetura, e ele é muito preciso. Eles desenvolveram uma nova tecnologia para colocar câmeras nos carros, que eram metade do tamanho das que usamos em ‘Top Gun: Maverick'”, explicou, ressaltando que isso permitiu ao público sentir como se estivesse dentro do cockpit.
Para Bruckheimer, o sucesso prova que o público está disposto a ir ao cinema por uma experiência única. “Cabe a nós, da indústria, trabalhar duro para criar entretenimento que faça as pessoas saírem de casa. Todos temos cozinhas, mas gostamos de sair para jantar. Precisamos oferecer uma boa refeição”.
O Futuro dos Blockbusters: Sequências à Vista
Durante a conversa, Bruckheimer também deu pistas sobre projetos futuros, confirmando que a paixão por velocidade e ação continuará. Questionado sobre novas produções, ele confirmou que estão trabalhando em uma continuação para “Top Gun”, um novo “Piratas do Caribe” e, para a alegria dos fãs de automobilismo, esperam fazer outro filme de “F1”, ao que o entrevistador brincou: “Vamos chamá-lo de ‘F2’?”.
“Ferrari”: Um Mergulho no Passado Chega aos Cinemas
Enquanto a tecnologia moderna domina em “F1”, o filme “Ferrari” nos transporta para a Itália de 1957. Com Adam Driver no papel principal como Enzo Ferrari e a estreia internacional do ator brasileiro Gabriel Leone, a narrativa foca em um período de crise pessoal e profissional para o fundador da lendária montadora. O filme mergulha no mundo das corridas e na luta de Enzo para manter sua paixão automobilística viva em meio a dificuldades financeiras.
No entanto, como toda cinebiografia, a produção toma liberdades criativas. Abaixo, analisamos o que é fato e o que é ficção no longa de Michael Mann.
A Realidade Financeira da Scuderia
O filme retrata a Ferrari à beira da falência em 1957. Historicamente, a situação é um pouco diferente. Embora Enzo Ferrari tenha enfrentado dificuldades, especialmente no início da empresa, a década de 1950 foi, na verdade, um período de crescimento. Foi nessa época que a Ferrari, impulsionada pelo boom econômico do pós-guerra na Itália, superou pela primeira vez a marca de 100 carros produzidos por ano. Quem enfrentava uma crise financeira real em 1957 era sua rival, a Maserati. Além disso, o acordo financeiro entre a Ferrari e a Fiat, mostrado como uma solução no filme, só aconteceria anos depois.
Os Relacionamentos Pessoais de Enzo
No longa, a vida amorosa de Enzo é simplificada, mostrando-o com apenas uma amante, Lina Lardi. A realidade, porém, era muito mais complexa. Registros históricos indicam que Enzo Ferrari teve múltiplos relacionamentos extraconjugais, inclusive com funcionárias de suas fábricas. Uma das figuras mais notáveis foi Fiamma Breschi, atriz e namorada do piloto da Ferrari, Luigi Musso. Após a morte trágica de Musso, Enzo e Fiamma iniciaram um relacionamento que durou até o fim da vida dele.
A Trágica Mille Miglia de 1957
Um dos pontos centrais do filme é a perigosa corrida Mille Miglia de 1957 e o acidente fatal que matou o piloto Alfonso de Portago. A participação da Ferrari na corrida é verídica, mas o filme distorce alguns fatos. A representação de De Portago implorando por uma chance de competir não é precisa; na realidade, ele já era piloto da equipe Ferrari desde 1953. Embora o acidente seja um fato histórico, a forma como os eventos são retratados pode não refletir a cronologia e os detalhes exatos da tragédia.
A Representação de Enzo Ferrari
Adam Driver entrega uma performance de um Enzo Ferrari frio, calculista e sem emoção. No entanto, o verdadeiro “Commendatore” era uma figura muito mais multifacetada. Além de ser um estrategista brilhante, ele era conhecido por sua capacidade de ser charmoso, cultivar um vasto círculo de amigos e cativar as pessoas ao seu redor. Essa habilidade de criar conexões pessoais foi fundamental para a construção de seu império. Diferente da figura implacável vista na tela, Enzo Ferrari era um homem complexo, capaz de mostrar diferentes lados de sua personalidade para atingir seus objetivos.