Mundo

Crítica: ‘Smurfs’ aposta em musical animado e mistura realidades para conquistar o público

Uma nova aventura azul

Os carismáticos personagens azuis criados pelo artista belga Pierre Culliford, conhecido como Peyo, em 1958, ganharam uma nova versão para os cinemas. Em mais uma tentativa de reinventar a franquia, o filme propõe um reboot ainda mais grandioso e, talvez, o mais inusitado de todos os tempos. Desta vez, Smurfette, dublada por Rihanna, lidera uma missão para resgatar o Papai Smurf, que tem a voz de John Goodman, após ele ser sequestrado.

Personagens e uma trama inusitada

Na vila dos Smurfs, cada personagem possui um papel ou traço marcante: Gênio resolve problemas, Vaidoso se preocupa apenas com a própria aparência, e por aí vai. Entre eles surge um Smurf sem nome, dublado por James Corden, que não sabe qual é sua função. Esse novo integrante serve como ponto de partida para uma aventura musical e multidimensional repleta de canções e danças. Entre os elementos fantasiosos da história, estão quatro livros mágicos que mantêm o equilíbrio do universo, mesmo que eles não sejam tão literários quanto a “Quadrilogia de Alexandria”, de Lawrence Durrell.

Visual e criatividade em destaque

O roteiro ousado permite ao diretor Chris Miller abusar da criatividade visual, levando a animação a extremos psicodélicos. Há momentos inspirados, como a passagem dos personagens por diferentes planos da realidade, fazendo uma homenagem à própria história da animação. Em vez de apostar apenas em referências pop para adultos, o filme utiliza o surrealismo como ferramenta de encantamento para todas as idades.

Crise criativa e universos paralelos

A tendência recente em Hollywood de transportar personagens fictícios para o “mundo real” se repete aqui. Assim como em outros sucessos, como LEGO e Barbie, a nova animação dos Smurfs abandona a vila dos cogumelos e coloca os pequenos seres azuis em situações cotidianas e até mesmo inusitadas, como uma boate parisiense. O curioso é que, mesmo circulando por lugares movimentados, eles não chamam a atenção dos humanos ao redor.

A inserção dos Smurfs no mundo real, com referências a multiverso, batalhas luminosas dignas de filmes de super-herói e lendas improváveis, revela uma produção que, por vezes, parece perdida sobre qual direção tomar. Em nenhum momento o longa brinca com o fato de Rihanna existir ou não naquele universo, apesar da cantora ser também produtora e emprestar sua voz e carisma à Smurfette, quase como uma extensão de sua persona musical.

Músicas e identidade

O maior destaque do filme acaba sendo mesmo as sequências musicais, incluindo a primeira canção inédita de Rihanna em três anos. O longa apresenta desde grandes coreografias comandadas pelo Papai Smurf, agora DJ, até cenas com Smurfette em momentos inspiradores ao lado de um canguru. São nessas horas que a animação encontra sua identidade e entretém de verdade.

Quando as músicas cessam e o enredo tenta se sustentar em elementos reciclados e uma história um tanto confusa, o filme perde fôlego e mostra suas fragilidades.

Entre nostalgia e inovação

A tarefa de produzir um filme infantil parece simples, especialmente com uma franquia tão consolidada quanto os Smurfs, mas a direção de Chris Miller e o roteiro de Pam Brady preferem transformar os personagens em guardiões mágicos encarregados de proteger um livro falante — Jaunty Grimoire, dublado por Amy Sedaris, com uma irreverência que remete a personagens de “South Park”. Já o clássico vilão Gargamel assume um papel secundário e quase passa despercebido.

No fim das contas, esta nova versão dos Smurfs aposta em visuais inovadores, momentos musicais e uma mistura de gêneros para tentar se manter relevante, mas acaba se perdendo ao buscar sentido em meio a tantos elementos diferentes. O resultado é uma experiência divertida para os olhos e para quem gosta de música, mas que talvez deixe saudade da simplicidade e do charme das antigas histórias dos pequenos seres azuis.