Na cena de abertura da comédia romântica “Splitsville”, dirigida por Michael Angelo Covino, acompanhamos o casal Ashley (Adria Arjona) e Carey (Kyle Marvin) a caminho da casa dos amigos Julie (Dakota Johnson) e Paul (Covino). No meio da viagem, Ashley decide apimentar o relacionamento com uma investida inesperada no carro. O momento, que deveria reacender a paixão no casamento, acaba em tragédia quando um acidente fatal muda completamente o rumo da história. A partir daí, Ashley toma uma decisão radical: pedir o divórcio ali mesmo, sem rodeios.
Ainda atordoado, Carey segue sozinho para visitar os amigos e acaba protagonizando uma série de situações cômicas em sua jornada. Quando finalmente chega à casa de Paul e Julie, desabafa e busca conselhos sobre como lidar com o fim repentino de seu casamento. É nesse momento que descobre o segredo do casal: um casamento aberto. Eles explicam que vivem uma relação em que ambos têm liberdade para se relacionar sexualmente com outras pessoas, sem culpa — desde que tudo permaneça em segredo, a menos que alguém pergunte.
Esse conceito, inicialmente estranho para Carey, desperta sua curiosidade e serve de gatilho para uma sequência hilária de eventos. A partir daí, o que se desenrola é uma série de situações inesperadas, recheadas de humor e ironia, que sustentam o enredo do filme.
Embora a premissa possa parecer absurda, o longa se destaca justamente por sua originalidade. Covino e Marvin, que já haviam trabalhado juntos no elogiado filme independente The Climb, voltam a unir forças para entregar uma comédia ousada e cheia de energia. O roteiro, coescrito por ambos, explora de maneira ácida e provocativa as contradições dos relacionamentos abertos, principalmente quando se trata da diferença de expectativas entre homens e mulheres.
Um dos maiores méritos do filme é seu cuidado com o desenvolvimento dos personagens. Ao invés de focar apenas nas situações engraçadas, o roteiro mergulha nas complexidades emocionais de cada um dos protagonistas. Mesmo que a personagem de Arjona, Ashley, tenha sua jornada de autoconhecimento iniciada fora da tela, ela retorna de forma impactante, com cenas marcantes e um timing cômico afiadíssimo.
Dakota Johnson, por sua vez, brilha ao interpretar Julie. Sua personagem equilibra maternidade, frustração conjugal e outras camadas dramáticas com uma leveza e precisão que impressionam. Suas interações com o restante do elenco rendem alguns dos momentos mais memoráveis do longa, reforçando sua versatilidade como atriz. Johnson entrega falas com uma graça natural e adapta sua energia conforme o tom da cena exige, mostrando mais uma vez por que é uma das atrizes mais consistentes de sua geração.
Elenco carismático impulsiona a energia vibrante de Splitsville
Outro ponto forte de Splitsville é a direção contida de Covino. Ao invés de recorrer a recursos visuais exagerados, ele opta por valorizar a química entre os personagens e a fisicalidade de determinadas cenas. Um exemplo disso é a sequência de briga no primeiro ato, que deve se tornar uma das favoritas do público. Com interpretações que misturam virilidade, criatividade e absurdo, Covino e Marvin criam um momento eletrizante que quase faz o espectador esquecer que não está assistindo a um filme de ação.
Splitsville se apresenta como um respiro bem-vindo para a comédia americana contemporânea, combinando inteligência, irreverência e crítica social em um pacote irresistível. Mais do que uma simples sátira sobre relacionamentos modernos, o filme é uma prova de que, com um elenco talentoso e um roteiro afiado, o humor ainda pode surpreender e emocionar.