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Os Beatles de 1964: Álbuns em Mono – Uma Revisão do Box Set Histórico

O box set The Beatles 1964 Albums in Mono, uma impressionante coleção de oito LPs, reúne sete álbuns lançados nos Estados Unidos entre fevereiro de 1964 e março de 1965. Contudo, esta coleção não inclui os álbuns clássicos que você poderia esperar. Não há Please Please Me, With The Beatles ou Beatles For Sale. Embora contenha A Hard Day’s Night, ele não é o mesmo álbum que os fãs conhecem. Trata-se de uma viagem por um universo alternativo, com títulos, listas de faixas, capas e até mesmo sonoridades próprias. Este conjunto, cuidadosamente restaurado e replicado, conta a história de como os Estados Unidos conheceram a banda de pop mais influente de todos os tempos.

Um Contexto Necessário

Para entender a singularidade desse box set, é importante voltar no tempo. No mundo da indústria fonográfica, há uma lenda que arrepia os executivos até hoje: a história de Dick Rowe, o executivo da Decca Records que rejeitou os Beatles, acreditando que as bandas de guitarra estavam em declínio. Em 1962, essa decisão parecia razoável, pois o rock estava perdendo espaço, e a audição da banda, realizada no Dia de Ano Novo, não impressionou. Eventualmente, George Martin decidiu contratá-los para a EMI, impressionado mais pela personalidade do grupo do que por aquela performance específica. Apesar do erro, Rowe se redimiu ao assinar com os Rolling Stones, Small Faces e Tom Jones.

Porém, a história dos Beatles nos Estados Unidos apresenta um erro ainda mais grave, protagonizado por Dave Dexter Jr., da Capitol Records. Dexter, chefe de produtos internacionais da gravadora, foi responsável por rejeitar os primeiros sucessos da banda, acreditando que as músicas de Lennon e McCartney não agradariam ao público americano. Essa decisão, baseada em sua preferência pelo jazz e em sua visão limitada do mercado pop, quase custou aos Beatles sua entrada triunfal nos EUA.

Rejeições Sucessivas e Persistência

Dexter, que tinha a palavra final sobre o lançamento de artistas britânicos pela Capitol, rejeitou sucessivamente sucessos como Please Please Me, From Me to You e até She Loves You. Mesmo com o grupo quebrando recordes no Reino Unido, ele acreditava que o mercado americano não tinha espaço para os Beatles. George Martin e Brian Epstein precisaram recorrer a gravadoras independentes menores, como a Vee-Jay Records em Chicago e a Swan em Nova York, para lançar os primeiros singles. No entanto, essas gravadoras não tinham a força necessária para promover novos artistas, e as canções passaram despercebidas.

Foi apenas com I Want To Hold Your Hand que Epstein conseguiu quebrar essa barreira. Ele levou pessoalmente o single para os executivos da Capitol, que, relutantes, concordaram em lançá-lo em janeiro de 1964, um período considerado desfavorável no mercado musical. Apesar do ceticismo, algo extraordinário aconteceu.

A Explosão da Beatlemania nos EUA

Em dezembro de 1963, DJs americanos começaram a tocar I Want To Hold Your Hand, atraídos pela novidade britânica. A música rapidamente se espalhou pelas rádios, capturando a imaginação de um país ainda abalado pelo assassinato de JFK. A Capitol foi pega de surpresa e precisou acelerar a produção do single, utilizando as fábricas da RCA e CBS para atender à enorme demanda. Os funcionários trabalharam em turnos extras para garantir que o mercado fosse abastecido.

Esse momento marcou o início da Beatlemania nos Estados Unidos. Os Beatles não apenas conquistaram o público americano, mas mudaram a história da música pop. O box set The Beatles 1964 Albums in Mono captura esse capítulo único, relembrando como as versões alternativas de seus álbuns moldaram a percepção dos fãs americanos e solidificaram o legado da banda no cenário global.